segunda-feira, 18 de maio de 2020

História da Carapinheira


Carapinheira
Ao longo da história da freguesia destacam-se até final do século passado, quatro épocas bem distintas correspondentes a quatro fases de desenvolvimento da civilização portuguesa. Surgem-nos assim provas irrefutáveis e indícios de que pelo menos naquelas quatro épocas os povos que ocuparam a área hoje conhecida por Carapinheira deixaram vestígios, viveram e evoluíram com as limitações e progressos características do seu próprio tempo. Podemos considerar uma quinta época de desenvolvimento a que chamaremos o «ciclo do arroz», a qual praticamente coincide com o século XX. 
Distinguimos assim, na primeira época, "Villa do Oleastro", hoje Alhastro, com as suas raízes romano-fenícias bem como o lugar de Lavariz ou Loveriz, resultante da "Villa Leoderici" (de Leodericos) e que parece ser de origem germânica no século X. 

A reforçar a hipótese, segundo o parecer do Professor Moisés Espírito Santo devidamente explanado na sua obra: «Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa, seguida de Ensaio sobre Toponímica Antiga», vamos encontrar numa região tendo por centro a povoação de Alhastro e um raio de 10 kms, uma «constelação» de topónimos todos de origem Fenícia ou Hebraica, tais como: 

ZAMBUJAL – terra de Thamujos 
CASAL DOS ALHOS – De alia (encosta, subida) 
SANTA OLAIA ou SANTA OVAIA – polo de difusão da civilização fenícia na região do Baixo Mondego, segundo Veiga Ferreira. 
ANAIA – de hanaia (escala, hospedaria) 
SELÃO – de sela (pedra em hebraico) 
CASAL SIMÃO – de Bal Seiman – Senhor Sol 
ABADINHA – de Abadin (Pai Poderoso) 
VALFORNO – de Baal Forno (O Senhor do Forno) 
MOURA ou MOURÂO – de muron (alto) 
CASAL D'ALÉM – de alia (subida, encosta) 

FONTE DA MOIRA – Moira – os Fenícios teriam associado o conceito religioso da antiga Moira Grega à Deusa ISHTAR-ASTARTÉ, a partir do que este tem de fecundante, pródigo e fatal.Ora os Romanos designavam o Zambujo ou Zambujeiro por Oleastrum, planta da família das oleaginosas «Ólea Europea Oleaster», resultando assim o nome de Oleastro ou Olastro, que finalmente originou Alhastro. 
É precisamente na Bética que nos surge a cidade de Oleastro e daí resulta o reforço à nossa tese das origens Fenício-Romanas do lugar do Alhastro. 
Seja como for é a Vila de Oleastro, agora Alhastro, que perdurou ainda que na atualidade totalmente confundida como sendo a própria Carapinheira. 

A primeira referência escrita sobre o Alhastro remonta ao século X. Efectivamente a Villa de Oleastrelo, como a de Tentúgal e Sendelgas pertenceram a Rodrigues Abulmundar, moçárabe que no ano 954 da era cristã as doou ao Abade Teodorico do Mosteiro do Lorvão, conforme reza o testamento. Pensa-se que D. Sisnando, grande senhor de Tentúgal e primeiro Conde de Coimbra sepultado na Sé Velha, tenha sido descendente de Abulmundar, porque apesar deste ter doado aquelas Vilas é D. Sisnando que vem herdá-las mais tarde, e até porque a doação não impedia a posse da terra pelos doados seus descendentes, desde que o mosteiro satisfizesse o encargo delas. 

Não ficam por aqui outras opiniões sobre a Villa de Oleastro. Alguns historiadores têm mesmo considerado como sendo o Alhastro, a antiga Póvoa de Santa Cristina, hoje modesto lugar de Tentúgal mas outroura terra importante e sede do concelho, onde existiu um mosteiro franciscano, extinto em 1834 pelo Governo Liberal, assim como um pequeno concelho. 
De facto, esta confusão, resulta do foral ou carta de foro atribuído simultaneamente por D. Afonso III em 26 de Setembro de 1265 à Póvoa de Santa Cristina e ao Olastro, como então se chamava. 
Concluímos pois que o Alhastro e a Póvoa de Santa Cristina, seriam nessa época, as povoações mais importantes entre Tentúgal e Montemor, dignas de terem regalias idênticas a estas duas Vilas. 
A povoação do Alhastro, até à constituição da freguesia de Carapinheira fez parte integrante duma das cinco paróquias da própria Vila de Montemor que era conhecida por São Miguel. A freguesia de São Miguel era em 1364 do padroado régio. 
Uma história apenas a juntar a tantas outras que povoam o Universo do nosso património lendário. Havia na povoação uma mulher chamada Pinheira, a qual na fogosidade da sua juventude vendia o seu amor. Só que todos se queixavam das suas exigências, e daí lhe chamaram Cara Pinheira, dando à povoação o nome porque tal mulher foi apelidada. 
Teve o Alhastro o seu cemitério com a Capela dedicada a São Pedro, no pequeno monte a este do atual campo de futebol da Carapinheira, até ao século XVII. 

É ainda no Alhastro que se ergue uma Capela chamada atualmente por Capela de Santo Amaro, reconstruída em 1692. 
Em 24 de Abril de 1662, a Capela era conhecida por Ermida de São Jorge. 
A 13 de Julho de 1990, a Assembleia da República deliberou em reunião plenária a elevação da localidade da Carapinheira a Vila.

LFCS Filipe Sousa

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